Sem dúvida, você já deve ter ouvido falar em Blockchain e Bitcoins. Sempre que surge o assunto, tudo fica meio nebuloso, incerto. Com a nossa equipe não é diferente. E, justamente por ser algo complicado, resolvemos tirar as dúvidas com o Mauro Ivan Mello, especialista em B.I. e mercado digital.
O mundo está cada vez mais tecnológico
Nós, praticamente, respiramos tecnologia. TVs, celulares, tablets, sistemas bancários, reconhecimento facial, biometria. Sem contar a Inteligência Artificial que permite um bate-papo com as máquinas quando precisamos de alguma informação.
Por conta desse turbilhão, Mauro se diz uma pessoa interessada na confluência entre a tecnologia e o ser humano. “Para mim, é impossível pensar na transformação digital sem entender como viver o melhor das novas possibilidades”, afirma.
Block o quê?
“O nome Blockchain vem da forma como esses dados são registrados. São blocos interligados como em uma corrente”, diz. Mauro revela que cada bloco de dados é um elo dessa corrente e esses elos são imutáveis, porém unidos por elementos do próprio bloco que são replicados no seguinte e assim por toda a corrente.
Apesar de ser complexo, Mauro explica que Blockchain é uma tecnologia de banco de dados que funciona como um livro contábil, ou seja, um livro de registros – o chamado ledger. Segundo o especialista, ele é altamente seguro e resistente a modificações, pois usa criptografia e um sistema de autenticação distribuída.
Segurança de informação
Assim, a autenticidade da corrente de dados é verificada por meio de cálculos que atestam a semelhança ou o chamado “parentesco” de um determinado bloco com os anteriores e os seguintes. Mauro detalha que, além das informações da corrente, cada bloco guarda também uma espécie de carimbo de tempo (timestamp), com informações de quando foi criado.
Os blocos carregam essas informações de “parentesco” de sua linhagem e cedem suas próprias informações para os blocos seguintes, formando a corrente. Aí, fica quase impossível alterar os dados de um bloco sem “quebrar” essa corrente. “Para que uma falsificação não fosse percebida, seria necessário alterar os dados de todos os blocos anteriores e os seguintes. Isso significa que as informações estão seguras por conta da criptografia e da identidade única de cada bloco, além do tempo de criação deles”, exemplifica Mauro.
E, afinal, quem registra e guarda esses dados no ledger (livro)?
Mauro revela que a engenhosidade do blockchain acabou resolvendo um problema de toda e qualquer informação digital. “Arquivos digitais podem ser copiados”, diz. Inegavelmente, com essas informações interdependentes e criptografadas, cada registro é único, se tornando impossível de ser replicado e multiplicado. “Dessa forma, o arquivo digital passou a ter as mesmas características de um bem físico, que pode ser estocado como reserva de valor, atestado, autenticado, trocado e vendido”, esclarece.
Ok. Mas, de fato, o que são esses blocos de informações?
Eu sei, eu sei. O Tico e o Teco devem estar pra lá de confusos com tanta informação. O que o Mauro falou até agora, se refere às características estruturais do blockchain. Daqui para frente, vamos mostrar a complexidade técnica disso tudo.
Então, vamos lá. Os blocos são compostos pelas diversas transações ocorridas entre pessoas que detêm algum ativo que está ligado a um determinado blockchain. Por exemplo: se alguém tem 10 unidades de uma criptomoeda, como o Bitcoin, e quer comprar uma pizza. Essa pessoa só precisa transferir a quantia certa de sua carteira virtual para a carteira da pizzaria. “As duas carteiras estão ligadas eletronicamente ao blockchain daquela criptomoeda e avisam que as 10 criptomoedas mudaram de dono naquele horário, saindo da carteira X para a carteira Y”, conta.
Segundo ele, a transação fica registrada e aguarda validação. Essa validação acontece com a gravação definitiva do conjunto de transações que foram realizadas naquele momento. Essas transações formam um bloco. Após a confirmação e autenticação de tudo isso, esse registro se torna imutável. Em outras palavras, a ação dos hackers fica ainda mais difícil quando se trata dessa tecnologia.
E onde entram as criptomoedas?
De acordo com nosso expert, por possuir todas as características listadas anteriormente, o blockchain permite que o processamento das informações seja distribuído e descentralizado, sem ter um “dono”. Por isso, Mauro afirma que as transações são chamadas de “peer to peer”, ou seja, diretamente de uma pessoa para outra, sem a necessidade de intermediários, como bancos, por exemplo. E isso permitiu a criação das chamadas criptomoedas e de outros produtos que usam o blockchain.
Blockchain só está ligado às criptomoedas?
Não! “Ele vai além das criptomoedas e passa por registros semelhantes aos de cartórios”, afirma. De acordo com o especialista, por possuir a característica de criar registros permanentes e inalteráveis, é fácil pensar que o blockchain possa substituir os cartórios.
“Porque as transações entre duas ou mais pessoas ficam automaticamente registradas no ledger, que usa o blockchain e são validadas e autenticadas, sem possibilidade de alteração posterior. Sendo assim, o registro de uma venda em um blockchain é uma prova de propriedade robusta e certificada”, detalha Mauro.
Ao mesmo tempo, essa lógica pode ser empregada em uma cadeia de logística, por exemplo. Uma indústria pode monitorar toda a jornada de matérias-primas e produtos, do fornecedor até o consumidor final, com todas as transações registradas para sempre no blockchain. Isso evita perdas, identifica problemas e garante qualidade e origem.
“No e-commerce, um pagamento em criptomoeda fica registrado, e esse ativo digital que não pode ser copiado ou multiplicado, mas sim utilizado novamente em outra transação, como uma moeda real”, diz Mauro. Ele explica que, assim como se criam criptomoedas, podem ser criados produtos virtuais. Cards digitais colecionáveis registrados em blockchain e que podem ser trocados já são uma realidade.
Na prática
Obviamente, você estar se perguntando: “E no dia a dia, como o blockchain entra na minha vida?” O Mauro contou para a gente que a maior manifestação do blockchain é com as criptomoedas. “Mais de seis milhões de pessoas no mundo já aplicam em criptomoedas.
E o Bitcoin foi a primeira das moedas virtuais. Ele nasceu quando uma pessoa ou um grupo de pessoas usou o pseudônimo ‘Satoshi Nakamoto’ para publicar um documento descrevendo as melhorias sobre uma tecnologia de 1991 que criava um sistema de “carimbos de datas” em documentos digitais que não podiam mais ser alterados”, detalha.
O especialista diz que, com o Bitcoin, vieram as características atuais do blockchain, inclusive a criptografia, o processamento descentralizado do livro-registro (ledger), com prova de trabalho e o consenso como garantias. A moeda virtual não tem um banco central e tudo é feito na base da confiança nesse sistema.
Uma realidade
É possível também comprar coisas no mundo real, mas como as moedas virtuais são instáveis e consideradas um ativo de investimento pela expectativa de valorização. Consequentemente, poucas pessoas acabam usando seus Bitcoins para compras.
“O fato é que o blockchain veio para ficar. Pela simplicidade de tornar possíveis trocas e registros sem intermediação de uma autoridade central e sem governos, por suas características de confidencialidade e resiliência a ataques, esses registros indeléveis e imutáveis estão cada vez mais presentes na indústria, no comércio, nas trocas de informações entre máquinas (Internet das coisas) e até nos governos”, conclui Mauro.